Eu até posso viver 100 anos, trabalhar em 43984764 lugares do mundo e ser muito conceituada, mas estes 42 dias que estou a passar na unidade de Cuidados Intensivos vão (mesmo) marcar este ser humano que se intitula de Projecto de Enfermeira.
Nestes últimos tempos, os meus ídolos (mais que os senhores da medicina ou os imprescindíveis ventiladores mecânicos) são os PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM (sim, aqueles a quem ja nem os altos poderes da sociedade se dignam a dar o devido valor).
É muito fácil lidar e compreender a dor ou o sofrimento de um doente que consegue comunicar connosco e expressar aquilo que o está a incomodar. É muito comum a famosa da pergunta: "Tem dor D.
Joaquina?" ser respondida e que facilmente se resolva o problema.
Dificil é compreender a D.Joaquina que não consegue imitir um mísero som porque tem o raio de um tubo enfiado pela garganta abaixo (que por acaso a está manter viva só pelo simples facto de estar a respirar por ela) .
Difícil é ler uma expressão facial, um movimento brusco, um abrir de olhos. Difícil é perguntar à D. Joaquina (completamente sedada) se está tudo bem , e não obter qualquer resposta. Difícil é saber que provavelmente a D.Joaquina nunca vai conseguir respirar sem a máquina ou que no próximo minuto provavelmente terá uma PCR e não tem sequer indicação para reanimação, porque como se diz mesmo? humm - Não tem viabilidade.
E mesmo com toda a dificuldade estes meus ídolos (portadores de todos os conhecimentos científicos imaginários, assim melhores que muitos médicos entendem?) continuam a conversar, a brincar, a fazer com que a D.Joaquina não se sinta sozinha só porque não consegue falar, manter os olhos abertos, ou sequer sentir qualquer picada de uma agulha malvada.
Ela ouve-nos sabem ?(ou pelo menos eu acredito que sim).
Quando for grande quero ser como os meus ÍDOLOS.
Estou a amar.
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