quarta-feira, 6 de março de 2013

Hoje o J. agarrou a minha mão com toda a força que lhe resta e encostou-a ao seu rosto. E com um sussuro arranhado pelo mar de secreçoes que lhe invadem os pulmões disse: 'My legs Ana, please cut off my legs. This pain is killing me'
Eu explico. O J. não está a morrer, nem em qualquer tipo de programa paliativo ou cuidados em fim de vida. É velhinho sim, capaz de pesar tanto como uns saquinhos de qualquer coisa leve. Mas está vivo, muito consciente e provido de uma doçura que me aquece o coração.
A cena é, a falta de sensibilidade destas pessoas que se dizem enfermeiros ou até mestres da medicina, está a mata-lo aos poucos.
Ele não está bem, ele não é mais o mesmo. O J. já não consegue dar-me o seu aperto de mão habitual. E meus caros, eu nao precisei de um curso elaborado de 5 ou 6 anos para entender isso.
Eu aprendi que a dor é um dos 5 sinais vitais. Aprendi que a dor não aparece so porque sim.
O que acontece é que nem todos devem ter aprendido o mesmo que eu.
E eu só tenho que me resignar a insignificância de lhe poder dar um pain killer de caca prescrito em SOS , que só faz umas cóceguinhas naquela chamada a dor severa.
E depois de bleepar Médicos, fisioterapeutas e o diabo a quatro, resta-me o bleepao meu coração. Resta-me ficar ali, a segurar-lhe a mão e a rezar para que a medicação que lhe dei desta vez surta algum efeito.                  

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