quarta-feira, 1 de maio de 2013

Ainda me lembro o quanto te odiava por correres atrás de mim com caracóis meliquentos e cheios de baba. Ainda me lembro das vezes que adormecia sozinha e acordava contigo a aquecer-me a cama. Ainda me lembro do teu horror à água do mar, e do quanto te queria obrigar a mergulhar comigo. Ainda me lembro das vezes que silenciosamente mudávamos os lençóis da tua cama para que ninguém soubesse que tinhas feito xixi na cama de novo. Ainda me lembro do tempo em que escondias o pão em cima dos armários pa mostrares que tinhas comido tudo. Lembro-me de me chamares de velha quando te chateavas comigo. Lembro-me de não conseguires acompanhar as minhas corridas a volta da casa porque perdias as forças ao rir-te do meu cu gordo a abanar. Lembro-me perfeitamente de teres proporcionado o pior dia da minha vida, deitado numa cama de hospital , com uma sombra roxa nos olhos e um capacete de ligadura. Sei que odeias batatas cozidas desde sempre. E lembro-me da primeira vez que me disseste que tinhas saudades minhas. Agora és um homem. E hoje tornaste-te adulto. De idade, só, sei muito bem. Mas adulto. Não estar aí a impor-te juízo e a fazer o papel da velha, mata-me. Acho que vais precisar sempre de mim. Para esconder a merda que fizeste. Para te acalmar numa noite de sonambulismo, e para ficar preocupada que nem mãe galinha quando chegas tarde. Mas agora és um homem. E eu não estou mais aí. Safas-te sem mim? Eu sei que sim. Não da mesma forma. Mas vais safar-te , e crescer. Vais ser o maior mecânico da freguesia. E eu vou continuar a observar-te de perto. Como sempre foi. Estou aqui hoje, como estive sempre quando ainda eras uma criança. Parabéns Pisco*

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