quarta-feira, 10 de abril de 2013

Do que é eterno.

É certo que diariamente me deparo com demonstrações de afecto e amor eterno entre os aqueles que nunca souberam o que é um divórcio ou sequer alguma vez pensaram em "dar um tempo". Desde o senhor de 90 anos que não abandona a cabeceira da esposa que ja não tem muito tempo de vida, até à velhinha de cadeira de rodas que não deixa de visitar o marido que já nem sequer a conhece e por vezes nao a trata da melhor maneira. Mas hoje estava só sentada no autocarro. Estava só no meio do quotidiano de tantas outras pessoas que me acompanhavam na viagem. O motorista não era provido da maior das simpatias (ao contrario da maior parte dos motoristas ingleses) e foi então que entrou o que viria a ser o meu herói do dia. Não deviam ser menos de 80 anos dentro daquele corpo acabado e seguro por uma bengala já gasta. Entrou. Pagou o bilhete e deu umas palavras ao motorista, que não mostrou grande agrado com a situação fosse ela qual fosse, que até aí eu desconhecia. O velhinho voltou a sair do autocarro. Dirigiu-se a paragem do autocarro e agarrou literalmente, a sua companheira. Carregou-a no seu ombro esquerdo, enquanto o seu trémulo braço direito segurava a sua bengala. Levaram cerca de 10 min a sentarem-se, enquanto o motorista rezava pra lá as suas amarguras por estar atrasado. Ela era cega. Provavelmente desorientada e fisicamente débil. Ele sentou-a. Sentou-se ao seu lado, e agarrou a sua mão. Entrelaçadas as mãos, como se de dois namorados recentes se tratasse, beijou-lhe a testa. Ela sorriu. E assim continuaram toda a viagem. Entre aqueles gestos de carinho e sorrisos amorosos, eu cheguei a acreditar na eternidade dos sentimentos. O tal de amor eterno que tantos anseiam e tão poucos conhecem , existe. É raro. Não depende de sensações supérfulas, de bens ou capacidades físicas, de presentes ou tensão sexual. Não me perguntem do que depende. Ainda não sei. Mas consigo vê-lo. E isso aquece-me o coração e enche-me de esperança. .

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